O Projeto Linux Kamarada anuncia o lançamento da primeira versão beta da distribuição Linux de mesmo nome. Ela já está disponível para download.
O Linux Kamarada surgiu da vontade de mostrar para as pessoas o “Linux como eu vejo”: um sistema viável de usar no dia-a-dia em casa e no trabalho. Dessa forma, comecei a escrever compartilhando minha experiência usando o Linux. Mas sempre tive vontade de criar uma distribuição, contendo os programas que uso, indico e acredito que são os melhores. Finalmente isso deixou de ser apenas uma vontade e virou algo concreto.
“Se um amigo me pedisse para formatar o computador dele e instalar o Linux, como eu faria?” Foi com esse pensamento que eu fiz a distribuição, incluindo os programas e personalizações que eu mesmo uso nos computadores de casa e do trabalho. Claro, não exatamente todos os programas que eu uso (eu não queria fazer uma distribuição voltada para programadores), mas os que eu uso e acredito que interessariam a muitas pessoas.
O Linux Kamarada não foi criado “do nada”, mas baseado na distribuição openSUSE, que eu uso há 7 anos. É uma das distribuições Linux mais usadas no mundo, desenvolvida pela comunidade do Projeto openSUSE, patrocinada pela SUSE e outras empresas. Seu foco é criar ferramentas de software livre para desenvolvedores e administradores de sistemas, fornecer um sistema amigável para desktops e rico em funcionalidades para servidores.
A distribuição Linux Kamarada é destinada ao uso em desktops em casa e no trabalho, seja em empresas privadas ou em órgãos públicos. Contém os programas essenciais a qualquer instalação do Linux e uma área de trabalho com visual moderno e agradável.
Não é recomendado usar o Linux Kamarada em servidores, embora seja possível. Nesse caso, a distribuição openSUSE é mais adequada, por fornecer uma opção de instalação própria para servidores, sem interface gráfica.
Por que se chama Kamarada?
O nome remete à palavra camarada, que quer dizer: amigo, companheiro, simpático, gentil, solidário, algo nesse sentido.
O mascote do Linux é o pinguim Tux. O mascote do Kamarada é o Tux piscando o olho:
A “evolução” do Tux: primeira versão do mascote por Larry Ewing em 1996, uma imagem bitmap GIF feita no GIMP; depois uma versão estilizada, agora já uma imagem vetorial SVG; e, por fim, o Tux Kamarada.
A troca da letra C pela letra K, embora não mude a pronúncia, foi feita com intenção de remeter à área de trabalho KDE, assim como muitos aplicativos para KDE têm seus nomes começando com a letra K, como Konsole ou Kleopatra. Quando comecei a usar o openSUSE, eu usava essa área de trabalho. Depois de muito me aborrecer com bugs e mudanças constantes, mudei para a área de trabalho GNOME, que considero mais estável e uso desde então. O projeto Linux Kamarada já existia e continuou com o mesmo nome.
O que traz o Linux Kamarada?
Área de trabalho do Linux Kamarada. O plano de fundo é uma foto da belíssima praia da Barra da Lagoa, em Florianópolis (SC).
A versão 15.1 Beta do Linux Kamarada — embora seja a primeira versão, o número é grande para haver um alinhamento com a base, que é o openSUSE Leap versão 15.1 — traz:
- kernel Linux 4.12.14
- área de trabalho GNOME 3.26 acompanhada de seus principais aplicativos (core apps), como Arquivos (antigo Nautilus), Calculadora, Terminal, Editor de texto (gedit), Captura de tela e outros
- navegador Chromium 74
- cliente de e-mail Evolution
- mensageiro instantâneo Pidgin 2.13.0
- suíte de aplicativos de escritório LibreOffice 6.1.3
- reprodutor multimídia VLC 3.0.6
- jogos: Aisleriot (Paciência), Mahjongg, Minas (Campo minado), Quadrapassel (Tetris), Sudoku e Xadrez
- centro de controle do YaST
- cliente de torrent Transmission 2.94
- softphone VoIP Linphone 4.1
- gravador de CD/DVD Brasero
- editor de partições GParted 0.31.0
- Java (OpenJDK) 11.0.3
- PDFsam 4.0.4
- Wine 3.7
- Firewalld 0.5.5
O Centro de controle do YaST: uma mão na roda para iniciantes, é uma das coisas que mais gosto no openSUSE.
Essa lista não é exaustiva, mas já dá uma noção do que você vai encontrar na distribuição.
Note que a distribuição ainda está em fase beta. Portanto, bugs são esperados. Se você encontrar um bug, por favor, reporte. Leia sobre ajuda mais adiante.
Constante aprendizado e aperfeiçoamento
Não é objetivo do Linux Kamarada — ao menos não nesse primeiro momento — entregar uma distribuição inovadora, cheia de diferenciais em meio a (tantas) outras que já existem ou otimizada para um público específico, como gamers ou programadores.
Antes, a distribuição aqui apresentada é fruto de um estudo para trazer a potenciais novos usuários de Linux o que esse sistema tem de mais útil a oferecer. Só incluí na distribuição programas que conheço e uso. Inclusive já escrevi sobre alguns deles aqui no blog. Com o tempo, conforme descubra coisas novas, posso adicionar novas funcionalidades ou substituir ou remover programas conforme se tornem obsoletos.
O Linux Kamarada pode ser visto como uma prova de conceito: uma prova de que o Linux é um sistema simples e fácil de usar como qualquer outro — como o Windows, o macOS, o Android ou o iOS. Muitas pessoas acham difícil usar o Linux, talvez por desconhecimento. Mas é perfeitamente possível usá-lo no dia-a-dia em casa e no trabalho.
Além disso, o Linux Kamarada também é um exemplo de como a identidade visual do Linux pode ser personalizada. Muitos elementos visuais do openSUSE foram substituídos pelos do Linux Kamarada. Uma empresa que deseje implantar o Linux em seus computadores pode se utilizar da mesma “receita” do Linux Kamarada para criar uma distribuição baseada no openSUSE e personalizada com sua marca. Ou usar o próprio Linux Kamarada como ponto de partida, atalhando o caminho e economizando tempo. Os códigos-fonte da distribuição estão disponíveis (mais sobre isso adiante). Pretendo em breve escrever uma série de posts sobre o processo de personalização (branding).
Projetos futuros
Lançada a distribuição para desktops, pretendo estudar como instalar o Linux em smartphones e tablets e lançar edições do Linux Kamarada para esses dispositivos. Alguns aplicativos já foram incluídos pensando nisso, como Agenda, Contatos, Fotos, Meteorologia e Relógios. Confesso que não uso esses aplicativos no computador, mas sim no celular.
Outro dispositivo que pretendo estudar é o Raspberry Pi, o computador de baixo custo e alta performance do tamanho de um cartão de crédito. Ele é usado em escolas para ensinar informática básica e pode ser integrado a diversos componentes para fazer experiências com Internet das Coisas. Seu baixo custo visa promover a inclusão digital: há diversos modelos disponíveis, com preços variando de R$ 100,00 a R$ 400,00.
No momento, a distribuição openSUSE suporta a família Raspberry Pi até o modelo Raspberry Pi 3. O modelo mais novo, o Raspberry Pi 4, lançado em julho desse ano, ainda não é suportado pelo openSUSE. Eu já comprei o meu e desejo ajudar o Projeto openSUSE a portar a distribuição para ele. Estou aguardando ele chegar para iniciar os trabalhos.
Em que o Linux Kamarada difere do openSUSE?
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o Linux Kamarada traz como navegador padrão o Chromium (semelhante ao Google Chrome, porém software livre), enquanto o openSUSE traz como padrão o Mozilla Firefox. Atualmente, o Chrome é o navegador mais usado no mundo e também no Brasil. Por isso fiz essa escolha. Eu particularmente uso ambos os navegadores, mas uso o Chrome com mais frequência.
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o Linux Kamarada traz como reprodutor multimídia o VLC, enquanto a edição com área de trabalho GNOME do openSUSE traz os aplicativos Música e Vídeos (Totem).
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o Linux Kamarada traz o Wine instalado por padrão, facilitando o uso no Linux de aplicativos desenvolvidos para Windows (note que nem todos os aplicativos para Windows são compatíveis ou funcionam perfeitamente no Linux).
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a imagem ISO do Linux Kamarada (ou o LiveDVD/USB gerados a partir dela) inclui um instalador que instala o conteúdo da própria mídia para o computador, enquanto o instalador do openSUSE sempre baixa todos os pacotes da Internet, ainda que esteja sendo usada a mídia Live.
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para os usuários brasileiros, o Linux Kamarada tem ainda mais uma diferença: a edição brasileira da imagem ISO já vem com todas as traduções instaladas, idioma, leiaute de teclado e fuso horário configurados.
Onde baixo o Linux Kamarada?
A página Download foi atualizada com o link para download da versão 15.1 Beta.
A título de curiosidade, existiram versões do Linux Kamarada baseadas no openSUSE Leap 42.2 e 42.3 que nunca foram lançadas oficialmente como essa baseada no 15.1 está sendo. Para minha surpresa, elas tiveram 550 downloads desde 2016. Esses arquivos antigos podem ser encontrados no SourceForge.net.
Já uso o Linux openSUSE
Você já usa o Linux openSUSE e quer transformá-lo no Linux Kamarada? Simples!
Basta adicionar o repositório do Linux Kamarada e instalar o pacote patterns-kamarada-gnome. Você pode fazer isso de duas formas: pela interface gráfica, usando a instalação com 1 clique (1-Click Install), ou pelo terminal, usando o gerenciador de pacotes zypper. Escolha a que prefere.
Para instalar usando a instalação com 1 clique, clique no botão abaixo:
Para instalar usando o terminal, primeiro adicione o repositório do Linux Kamarada:
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# zypper addrepo -f -K -n "Linux Kamarada" http://download.opensuse.org/repositories/home:/kamarada:/15.1/openSUSE_Leap_15.1/ kamarada
Depois, instale o pacote patterns-kamarada-gnome:
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# zypper in patterns-kamarada-gnome
Se você já usa a área de trabalho GNOME, a mesma usada por padrão pelo Linux Kamarada, provavelmente será necessário baixar poucos pacotes. Se você usa outra área de trabalho, o tamanho do download será maior.
Quando a instalação terminar, se você criar um novo usuário, perceberá que ele receberá as configurações padrão do Linux Kamarada (como tema, papel de parede, etc.). Usuários já existentes podem seguir usando suas personalizações ou ajustar a aparência do sistema (por exemplo, usando os aplicativos Ajustes e Configurações).
Onde obtenho ajuda?
Outra novidade no site é a página Ajuda, que pode ser acessada pela barra de navegação no topo. Ela indica alguns lugares onde é possível obter auxílio com o Linux Kamarada, o openSUSE ou distribuições Linux em geral (incluindo essas duas).
Foi criado um grupo do Google para o Linux Kamarada, que pode ser usado semelhante a uma lista de discussão por e-mail ou diretamente a partir do navegador. Esse será o principal canal de suporte para os usuários.
Onde obtenho os códigos-fonte?
Como todo projeto de software livre, o Linux Kamarada disponibiliza seus códigos-fonte para quem quiser estudá-los, adaptá-los ou contribuir com o projeto.
O desenvolvimento do Linux Kamarada ocorre no GitHub e no Open Build Service. Lá podem ser obtidos os códigos-fonte dos pacotes desenvolvidos especificamente para esse projeto (até mesmo o código-fonte deste site que você lê está disponível).
Os códigos-fonte de pacotes herdados do openSUSE podem ser obtidos diretamente dessa distribuição. Se precisar de ajuda para fazer isso, entre em contato, posso ajudar.
Quem eu sou
O Projeto Linux Kamarada é formado por uma equipe de uma pessoa só — em outras palavras, uma “euquipe”. Na verdade, eu sou o único responsável por manter esse projeto enquanto site e distribuição, mas em ambos eu uso e herdo muito software livre feito pela distribuição maior openSUSE e por diversas pessoas ao redor do mundo. Como diz o ditado, “nenhum ser humano é uma ilha”.
Meu nome é Antônio Vinícius (me chamam por um nome ou outro). Nasci em 1992 em Aracaju (SE), no dia do santo. Sou formado como técnico em Informática e cientista da Computação. Atualmente moro em Florianópolis (SC) e trabalho como analista de sistemas no TJSC. Uso Linux há 12 anos (desde 2007). Sou usuário entusiasta de Linux e softwares livres em geral. Curioso, estou sempre em busca de conhecer novas tecnologias e adquirir conhecimentos, que compartilho neste blog do Linux Kamarada e no meu blog pessoal.