Na semana passada foi lançado o openSUSE Leap 16.0. Não dei a devida atenção, mas também estou trabalhando em outro projeto, e gostaria de vir aqui hoje compartilhar: não haverá um “Linux Kamarada 16.0”. Em vez disso, o Linux Kamarada está mudando sua base do openSUSE Leap para o Manjaro.
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Arte baseada no papel de parede por PharaohSD/DeviantArt
O Manjaro é uma distribuição Linux baseada no Arch Linux, que é conhecido por ser rolling release (atualizações contínuas), minimalista e flexível. Mas o Manjaro é desenvolvido para ser mais fácil de usar e mais estável que o Arch Linux puro, tornando-o mais acessível para um público maior, ideal para quem quer o poder do Arch, sem a complexidade de ter que configurá-lo do zero. Desenvolvido na Áustria, França e Alemanha, o Manjaro é adequado tanto para iniciantes quanto para usuários experientes do Linux.
Assim como o openSUSE Leap fornece pacotes binários no formato rpm, tanto o Manjaro quanto o Arch Linux fornecem pacotes binários no formato pkg.tar.zst. E possuem, além de seus repositórios oficiais de pacotes binários, o Arch User Repository (em português, “repositório dos usuários do Arch”, mais conhecido por AUR), que é um repositório comunitário de scripts de compilação chamados PKGBUILDs. Em vez de fornecer pacotes binários prontos, o AUR entrega instruções que o sistema segue para criar e instalar os pacotes localmente. Dá pra instalar dos programas mais famosos aos mais improváveis a partir do AUR.
Programas podem ser instalados no Manjaro por meio do Pamac, o gerenciador de pacotes próprio do Manjaro, que pode ser usado tanto pela interface gráfica quanto pela linha de comando, e pode obter pacotes dos repositórios oficiais, mas também do AUR e do Flatpak.
Um diferencial do Manjaro é a sua detecção de hardware por meio do Manjaro Hardware Detection (MHWD), especialmente útil para quem precisa gerenciar placas de vídeo híbridas em desktops e notebooks mais recentes.
O Gerenciador de Configurações do Manjaro (Manjaro Settings Manager, análogo ao YaST) permite ajustar diversas configurações a nível de sistema, como idioma, kernels e drivers, contas de usuário, data e hora e leiaute do teclado.
Minha história com o Manjaro
Eu comecei a usar o openSUSE em abril de 2012. Naquela época, não havia distinção entre Leap e Tumbleweed (nem o monte de outras variações do openSUSE que existem hoje), era apenas “openSUSE”. E, para testar a atualização da distribuição, eu instalei a versão 11.4 e logo em seguida atualizei para a 12.1 (algo que eu não conseguia fazer na distribuição que eu usava antes, o Ubuntu, era atualizar de uma versão para outra, isso é tranquilo no Debian, que também já usei durante um tempo, especialmente no trabalho com servidores).
O colega que me apresentou o openSUSE pouco tempo depois mudou para o Arch Linux, mas esse eu não tive coragem de experimentar. Pelo que ele me falava na época, me parecia um tanto “espartano”. Mas vira e mexe pesquisando como resolver algum problema no Linux eu me esbarrava com a wiki do Arch Linux, uma valiosa fonte de informação. Meia dúzia de artigos neste site citam a wiki do Arch Linux, o mais recente deles de março, sobre o WSL.
Anos depois, outro colega me falou muito bem do Manjaro, mas ainda não foi meu momento de experimentá-lo. Tive meu primeiro contato com o Manjaro nos meus testes com o Raspberry Pi e o PinePhone. O Manjaro foi uma das primeiras distribuições a suportar completamente ambos os dispositivos, passando o openSUSE Tumbleweed para trás.
O tempo passou e eu fui aos poucos me chateando com algumas coisas do openSUSE Leap. Por exemplo, este site é feito com Jekyll, que depende do Ruby e de outras bibliotecas. Do openSUSE Leap 15.5 para o 15.6, não houve atualização do Ruby. Mas o Jekyll e suas dependências são atualizados constantemente. Teve uma hora que eu não consegui mais acompanhar essas atualizações por causa da versão obsoleta do Ruby e tive que me contentar em parar naquela versão do Jekyll. Atualizar o Ruby não era uma opção por causa do YaST, uma ferramenta essencial do sistema que também dependia do Ruby.
Ao usar distribuições com lançamentos de versões regulares, como openSUSE Leap e Debian, em algum momento você começa a ter que fazer ajustes na configuração do seu sistema e se preocupar com qual versão de qual software funciona com qual versão de outro software, um trabalho que você não teria se simplesmente usasse a versão mais recente de tudo. Chega uma hora que você não consegue mais atualizar as ferramentas que precisa, porque a base do seu sistema não te permite. E aí o conceito de “estabilidade” dessas distribuições se torna questionável. Porque para elas “programas estáveis” muitas vezes significam “programas antigos”, mas versões mais recentes também trazem correções para falhas de segurança e melhorias no desempenho.
Eu não gosto dessa sensação de “lutar contra o computador”, eu gosto do que “simplesmente funciona”. O openSUSE já foi assim, mas deixou de ser. Eu poderia ter testado o openSUSE Tumbleweed, mas lembrando das experiências com o Raspberry Pi e o PinePhone, preferi dar uma chance para o Manjaro.
E gostei, foi um caminho sem volta. Eu instalei o Manjaro no meu notebook anterior, um Acer Aspire E15, inicialmente dividindo o SSD com o openSUSE Leap. Como não deu certo, acabei removendo o openSUSE e deixando apenas o Manjaro. Tive problemas com o Bluetooth também, mas tive os mesmos problemas quando instalei o openSUSE nesse computador, então atribuo o problema ao computador e não às distriuições. Isso foi agosto do ano passado.
Em novembro, há quase um ano, troquei de notebook. Hoje estou com um Acer Predator Helios Neo 16, que tem placas de vídeo híbridas Intel e NVIDIA, e a configuração do vídeo foi bastante facilitada pelo Manjaro Settings Manager. Esse notebook nem conheceu o openSUSE, já recebeu o Manjaro.
openSUSE Leap versus Manjaro
Resumindo as diferenças entre openSUSE Leap e Manjaro que mais me chamaram a atenção e me fizeram migrar do primeiro para o segundo:
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Repositórios de software: para além dos repositórios oficiais, e do Flatpak que é suportado em ambas as distribuições, o Manjaro tem o AUR e o openSUSE Leap tem o OBS, só que é muito mais fácil encontrar pacotes nos repositórios oficiais do Manjaro e no AUR do que nos repositórios oficiais do openSUSE Leap e no OBS, de modo que no Manjaro a maioria dos programas pode ser instalada de forma mais natural ao sistema, e os usuários só tem que recorrer ao Flatpak realmente em último caso, a variedade de software disponível no AUR é realmente impressionante.
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Softwares mais atuais: isso se deve à diferença entre a natureza das duas distribuições – o openSUSE Leap lança versões regulares (geralmente, uma nova versão por ano), enquanto o Manjaro é rolling release (lançamento contínuo), ou seja, não existem diferentes versões do Manjaro, apenas a versão mais recente. Nesse sentido, o Manjaro é parecido com o openSUSE Tumbleweed, que também é rolling release. Para quem, como eu, vem de um histórico de distribuições de versões regulares (Debian, Ubuntu, openSUSE Leap), a ideia de usar uma distribuição rolling release pode assustar à primeira vista, mas hojes essa distribuições estão maduras o suficiente e as atualizações frequentes não costumam quebrar o sistema.
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Imagens live: ao meu ver, imagens live são um dos principais diferenciais do Linux em comparação com outros sistemas como o Windows ou o macOS, pois permitem usar o Linux sem precisar instalá-lo no computador, o que pode ser útil para quem quer testar o sistema e/ou aprender a usar antes de instalar, ou resolver problemas do sistema instalado no computador quando não é possível acessá-lo, entre outras funções. Nesse sentido, o Manjaro é mais parecido com outras distribuições como o Ubuntu: sempre disponibilizaram imagens live oficiais nos seus sites para download. No caso do openSUSE, isso sempre foi um vai e vem: até o openSUSE 13.2 imagens live podiam ser baixadas do site oficial da distro, com o início do openSUSE Leap pararam de fazer imagens live (foi aí que comecei o Linux Kamarada, para preencher essa lacuna), depois voltaram a fazer e disponibilizar no site, com o Leap 15.6 tiraram os links para as imagens do site mas ainda era possível encontrá-las no OBS, e agora com o Leap 16.0 pelo visto deixaram de fazer de novo. O Linux Kamarada nesse ponto sempre foi mais parecido com o Manjaro, Ubuntu e outras distribuições.
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Suporte a hardware: como já demonstrado com os exemplos do Raspberry Pi e do PinePhone, aparentemente o Manjaro demora menos que o openSUSE para oferecer suporte a novos dispositivos. Computadores e notebooks com placas de vídeo da NVIDIA são outro exemplo: o Manjaro inclui os drivers proprietários da NVIDIA nas suas imagens ISO desde pelo menos 2019, facilitando e melhorando a experiência dos usuários dessas placas de vídeo desde o primeiro contato com o sistema. Mesmo antes, desde pelo menos 2013, a instalação desses drivers era facilitada pelo MHWD. No openSUSE, a instalação desses drivers sempre foi manual.
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Maior comunidade: tenho a impressão, pelo que vejo nos sites de notícias, fóruns e grupos por aí que o Manjaro tem recebido mais atenção que o openSUSE Leap. (Isso é uma impressão minha, não tenho estatísticas que me permitam embasar essa percepção.)
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Desenvolvimento usando apenas Git: aqui vai um detalhe mais técnico, de como as coisas são feitas nos bastidores. O desenvolvimento do openSUSE ocorre principalmente no OBS, sendo possível integrá-lo com o GitLab (ou o GitHub, ou outras hospedagens de Git). Já o desenvolvimento do Manjaro ocorre principalmente no Git. A imagem ISO do Manjaro é compilada usando GitHub Actions. O AUR é uma hospedagem de Git, com cada “pacote” tendo seu próprio repositório Git. Entendo que quando o OBS foi criado, não havia algo como o GitHub Actions, e nisso ele tem seu mérito. Mas usar o Git para gerenciar o código-fonte e o GitHub Actions para automatizar tarefas torna o desenvolvimento muito mais fluido. Até o openSUSE está migrando do OBS para o Git, mas “chegou tarde para a festa”.
Claro, essa é apenas a minha humilde opinião, baseada na minha própria experiência como usuário dessas duas distribuições, não tome essa comparação como um veredito ou um fato científico. Você pode discordar e achar que para você o openSUSE Leap é melhor que o Manjaro, e está tudo bem.
Adeus, openSUSE
Foram, portanto, 12 anos usando o openSUSE, de abril de 2012 a agosto de 2024. Me permiti usar e testar o Manjaro durante um ano, para ter certeza de que era isso que eu queria. Lancei mais uma versão do Linux Kamarada baseada no openSUSE Leap, mesmo já usando o Manjaro, para me despedir do openSUSE com uma versão atual e suportada. Com o lançamento do openSUSE Leap 16.0, essa já não é a versão mais atual, então acho justo anunciar que não haverá um “Linux Kamarada 16.0”. Como o openSUSE decidiu fazer grandes mudanças nessa nova versão do Leap (por exemplo, descontinuar o YaST), pensei que seria um momento oportuno para também fazer grandes mudanças no Linux Kamarada. Seguindo o pensamento que me levou a criar o Linux Kamarada – mostrar para as pessoas o “Linux como eu vejo” – como agora uso e indico o Manjaro, a próxima versão do Linux Kamarada será baseada no Manjaro.
Agradeço ao Projeto openSUSE por tudo de bom que me deu durante todos esses anos, em especial a boa distribuição, e a infraestrutura e o conhecimento para eu construir a minha também. Mas agora decidi caminhar em outra direção.
Manjaro: o futuro do Linux Kamarada
De agora em diante, os artigos no site usarão como distribuição Linux de referência o Manjaro. Poderei eventualmente falar sobre o openSUSE, mas não será o foco.
Pretendo lançar uma versão do Linux Kamarada baseada no Manjaro até o final do ano. Por enquanto, atualizei a página Download com uma imagem ISO que você pode baixar e testar para ter uma visão prévia do que irá encontrar na versão final. Essa versão ainda não está pronta para uso no dia-a-dia, está em desenvolvimento, em um estágio muito inicial, eu diria que alfa.
O openSUSE Leap 15.6 receberá atualizações e será suportado até abril de 2026. Portanto, o Linux Kamarada 15.6, que é baseado no openSUSE Leap 15.6, receberá atualizações e será suportado pelo mesmo tempo. Até lá, os usuários do Linux Kamarada 15.6 terão que escolher um de dois caminhos possíveis:
- permanecer na base do openSUSE Leap, e atualizar do Linux Kamarada 15.6 para o openSUSE Leap 16.0; ou
- se quiser continuar seguindo o Linux Kamarada, que mudará a base para o Manjaro (incompatível com o openSUSE Leap), precisará formatar sua partição do Linux Kamarada 15.6 para instalar o novo Linux Kamarada baseado no Manjaro, quando a versão final for lançada.
Note que o Linux Kamarada 15.6 é software livre e seu código-fonte está disponível no GitLab e no openSUSE Build Service. Existe um tutorial de como você pode compilar a imagem ISO você mesmo no seu próprio computador, assim como toda uma série de tutoriais sobre como fazer uma distribuição Linux baseada no openSUSE Leap. Quem quiser fazer um fork do Linux Kamarada 15.6, atualizar para o openSUSE Leap 16.0 e seguir com o trabalho, sinta-se à vontade. Peço, claro, que mude o nome e as artes.
Também teremos mudanças na infraestrutura do Linux Kamarada. Estou migrando os repositórios Git de volta para o GitHub. Embora pessoalmente eu prefira a interface do GitLab, essa é uma decisão de mercado: o GitHub tem mais usuários que o GitLab (respectivamente 150 milhões versus 50 milhões, de acordo com as estimativas de ambos) e isso deve dar mais visibilidade ao projeto e facilitar possíveis contribuições. Claro que se algum dia self-hosted for cogitado como algo mais concreto, o GitLab será uma boa opção.
Os pacotes para o novo Linux Kamarada baseado no Manjaro por enquanto estão hospedados em kamarada.github.io/repo, mas pretendo movê-los para algum lugar como repo.linuxkamarada.com
. Quando isso acontecer, avisarei.
Você pode obter o código-fonte de um pacote qualquer geralmente acessando o repositório no GitHub com o mesmo nome do pacote. Por exemplo, o código-fonte do pacote kamarada-gnome-settings
pode ser encontrado no repositório kamarada-gnome-settings do GitHub do Linux Kamarada.
Por enquanto o que tenho de novidade é isso. E que grande novidade! Para saber das próximas novidades sobre o Linux Kamarada, siga o projeto nas redes sociais. Até a próxima!
Ficha técnica
Para que seja possível comparar este instantâneo (snapshot) com o anterior e os futuros, segue um resumo do software contido no Linux Kamarada 25.10 Alpha:
- kernel Linux 6.16.8
- servidor gráfico X.Org 21.1.18 (com Wayland 1.24.0 habilitado por padrão)
- área de trabalho GNOME 48.5 acompanhada de seus principais aplicativos (core apps), como Arquivos (antigo Nautilus), Calculadora, Terminal, Editor de texto (gedit) e outros
- suíte de aplicativos de escritório LibreOffice 25.2.6
- navegador Mozilla Firefox 143.0.3 (navegador padro)
- navegador Chromium 141 (navegador alternativo disponível)
- reprodutor multimídia VLC 3.0.21
- cliente de e-mail Evolution 3.56.2
- Brasero 3.12.3
- CUPS 2.4.14
- Drawing 1.0.2
- GParted 1.7.0
- HPLIP 3.25.6
- Java (OpenJDK) 21.0.8
- KeePassXC 2.7.10
- PDFsam Basic 5.3.2
- Pidgin 2.14.14
- Python 3.13.7
- Samba 4.23.0
- Tor 0.4.8.18
- Transmission 4.0.6
- Vim 9.1.1734
- Wine 10.15
- instalador Calamares 3.4.0
- Flatpak 1.16.1
- jogos: AisleRiot (Paciência), Mahjongg, Minas (Campo minado), Nibbles (Cobras), Quadrapassel (Tetris), Reversi, Sudoku, Xadrez
Essa lista não é exaustiva, mas já dá uma noção do que se encontra na distribuição. Observe também que agora o Linux Kamarada é uma distribuição rolling release, ou seja, não existem diferentes versões do Linux Kamarada, apenas a versão mais recente. O número “25.10” não indica uma versão, é apenas uma referência, e quer dizer: “outubro de 2025”.