Linux Kamarada

openSUSE no Raspberry Pi 4 — parte 1: download e instalação

Sabia que já é possível rodar o openSUSE no Raspberry Pi 4? Na primeira vez em que escrevi sobre o minicomputador do tamanho de um cartão de crédito, há pouco mais de um ano, o Projeto openSUSE ainda não oferecia suporte à geração mais nova do Raspberry Pi. Quem quisesse usar um Raspberry Pi 4 como um desktop naquela época teria que recorrer a outra distribuição, como Raspbian ou Manjaro.

Se quiser saber mais sobre o Raspberry Pi 4 e suas especificações técnicas, leia o post:

Mesmo hoje, o suporte do openSUSE ao Raspberry Pi 4 ainda não é completo. Explico.

openSUSE versus Raspbian e Manjaro

Softwares específicos do Raspberry Pi — o firmware, o bootloader e os módulos do kernel Linux — são de propriedade da fabricante do seu processador, a Broadcom, que não parece disposta a torná-los abertos. Talvez isso não seja um problema para a maioria dos usuários do Raspberry Pi. É compreensível que foi uma concessão que os projetistas da placa tiveram que fazer para conseguir ofertá-la a preços acessíveis. Mas isso pode ser uma questão para os mais puristas do código aberto.

A Raspberry Pi Foundation disponibiliza no GitHub os códigos-fonte do seu próprio fork do kernel Linux e os binários pré-compilados dos softwares proprietários da Broadcom.

O Raspbian oferece suporte completo ao Raspberry Pi 4 porque usa o kernel Linux e os binários pré-compilados obtidos da Raspberry Pi Foundation. O Manjaro seguiu o mesmo caminho e, por isso, também oferece suporte completo ao Raspberry Pi 4. Esse caminho é mais curto, fornece “para ontem” um sistema que funciona, e não há nada de errado nisso.

Mas o Projeto openSUSE optou por seguir um caminho diferente, tentando adicionar suporte ao Raspberry Pi 4 ao kernel Linux original, que é usado pela distribuição. É um caminho mais longo e demorado, mas que na teoria deve fornecer melhores resultados no longo prazo, que inclusive beneficiarão outras distribuições além do próprio openSUSE. A desvantagem dessa abordagem é que, enquanto módulos de código aberto não são desenvolvidos, não é possível usar alguns recursos do Raspberry Pi 4.

Sabia que existem “dois openSUSEs”?

Até 2014, havia apenas uma distribuição chamada openSUSE, então na versão 13.2.

A partir daí, o Projeto openSUSE passou a oferecer duas distribuições: openSUSE Leap e openSUSE Tumbleweed.

Se você ainda não conhecia essas distribuições, confira as diferenças entre elas no texto:

Normalmente, eu falo aqui do openSUSE Leap. Mas hoje quero falar do Tumbleweed.

Como o suporte ao Raspberry Pi 4 ainda está em desenvolvimento e as novidades chegam primeiro no Tumbleweed, acho interessante ficar de olho no Tumbleweed. Por isso, vamos experimentar o Tumbleweed hoje.

Se você prefere usar o Leap, pode seguir esse passo-a-passo da mesma forma. As instruções são as mesmas.

O que funciona e o que não funciona?

Resumo: no que se refere ao suporte ao hardware do Raspberry Pi 4, não há diferença entre o Leap e o Tumbleweed. Se você pretende usar o Raspberry Pi como um servidor doméstico, ambas as distribuições do openSUSE vão te atender muito bem. Se pretende usar como um desktop, pode ser que sinta falta de alguns recursos, como o Bluetooth e o som.

Eu testei os seguintes recursos do Raspberry Pi 4 nas duas distribuições:

  • Rede sem fio Wi-Fi: em ambas, consegui me conectar a redes de 2,4GHz e 5GHz;
  • Rede cabeada Ethernet: em ambas, consegui me conectar a uma rede cabeada;
  • Bluetooth: em ambas, não consegui fazer o Bluetooth funcionar;
  • Portas USB: em ambas, todas as 4 portas USB funcionaram, apenas faço algumas observações quanto a teclado e mouse:
    • o teclado não funciona no menu do GRUB;
    • em ambas as distribuições, dependendo do modelo do teclado e/ou mouse, ao reiniciar o Raspberry Pi pode ser que parem de funcionar, sendo necessário removê-los e plugá-los de novo para que voltem;
  • Portas HDMI: em ambas as distribuições, ambas as portas HDMI funcionaram, mas ao mudar o cabo HDMI de uma porta para outra, não foi exibida imagem nessa outra porta de imediato — então, se precisar mudar o cabo HDMI de porta, é necessário reiniciar o Raspberry Pi;
  • Saída de som: em ambas as distribuições, não consegui produzir som usando o Raspberry Pi de forma alguma — seja pela saída de som (conectando um fone de ouvido tradicional, por exemplo), pela HDMI (conectando uma TV) ou por Bluetooth.

O que eu não testei (não sei se funciona ou não):

  • Usar dois monitores ao mesmo tempo, conectando cada um a uma porta HDMI;
  • Pinos GPIO;
  • Qualquer coisa que eu não tenha listado acima.

Sabendo o que hoje funciona ou não no Raspberry Pi 4 com openSUSE, você pode decidir se usa o openSUSE (e qual variação usar: Leap ou Tumbleweed) ou se aguarda o suporte do openSUSE ao hardware do Raspberry Pi 4 melhorar e usa outra distribuição enquanto isso.

Baixando a imagem do openSUSE

Para baixar a imagem do openSUSE e gravá-la no cartão de memória, você precisará de um PC com Linux, Windows ou macOS e um cartão de memória micro-SD de pelo menos 8GB.

Eu vou usar o Linux Kamarada 15.2, baseado no openSUSE Leap 15.2.

Acesse a página do Raspberry Pi 4 na wiki do openSUSE:

Note que há várias opções de imagens tanto do Tumbleweed quanto do Leap 15.2. Se você pretende usar o Raspberry Pi como um servidor, a imagem JeOS (Just enough Operating System — traduzindo: tão somente o sistema operacional) é a mais adequada. Se pretende usá-lo como um desktop, pode escolher outra imagem com alguma área de trabalho.

Aqui, vou usar a imagem do Tumbleweed com a área de trabalho XFCE, que é bem leve e, por isso, adequada para o Raspberry Pi.

Clique no link para a imagem que deseja baixar. O download pode demorar um pouco, considerando que o arquivo é grande (no meu caso, 1 GB).

Gravando a imagem no cartão de memória com o balenaEtcher

Para gravar a imagem do openSUSE no cartão de memória, eu recomendo o programa balenaEtcher, por ser simples e fácil de usar. Ele é gratuito e de código aberto.

Veja como usar o balenaEtcher em:

Só observo que há um pequeno problema quanto a privacidade, que explico no tutorial e apresento uma solução de contorno, mas isso não me impede de usar o balenaEtcher.

Se isso for uma questão pra você, uma alternativa é usar o comando dd, se você usa Linux.

Alternativa ao Etcher: comando dd

Se você preferiu seguir minha recomendação e usar o balenaEtcher, pode pular essa seção.

O comando dd provavelmente está presente em todas as distribuições Linux.

Conecte ao computador o cartão de memória no qual será gravada a imagem.

Note que gravar a imagem do openSUSE no cartão de memória apagará quaisquer dados que porventura estejam nesse cartão. Se ele contém arquivos, talvez você queira fazer um backup deles antes de continuar para não perdê-los.

Recomendo que você remova quaisquer outros dispositivos de armazenamento (pendrives, HDs externos, etc) conectados e deixe apenas o cartão de memória, pra não correr o risco de formatar o dispositivo errado (e perder arquivos, provavelmente de forma irreversível).

Identifique o cartão de memória que receberá a imagem. Você pode fazer isso com o auxílio do comando fdisk, que provavelmente também é outro comando universal:

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# fdisk -l
Disco /dev/sda: 447,1 GiB, 480103981056 bytes, 937703088 setores
Modelo de disco: KINGSTON SA400S3
[...]

Disco /dev/mmcblk0: 29,7 GiB, 31914983424 bytes, 62333952 setores
Unidades: setor de 1 * 512 = 512 bytes
Tamanho de setor (lógico/físico): 512 bytes / 512 bytes
Tamanho E/S (mínimo/ótimo): 512 bytes / 512 bytes
Tipo de rótulo do disco: dos
Identificador do disco: 0xf77ae276

Dispositivo    Inicializar Início      Fim  Setores Tamanho Id Tipo
/dev/mmcblk0p1               2048 62332927 62330880   29,7G  b FAT32 W95

No meu caso, o cartão de memória é o dispositivo /dev/mmcblk0. Eu costumo me orientar pela capacidade do dispositivo (nesse caso, um cartão de memória de 32 GB, é normal o tamanho informado pelo sistema operacional diferir um pouco).

Então, execute o comando a seguir para gravar a imagem no cartão de memória, fazendo as substituições necessárias.

Cuidado: certifique-se de identificar e informar corretamente o cartão de memória, do contrário a imagem será gravada no dispositivo de armazenamento errado e você poderá perder dados de forma irreversível.

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# xzcat [nome-do-arquivo].raw.xz | dd bs=4M of=[caminho-do-dispositivo] iflag=fullblock oflag=direct status=progress; sync

O comando sync ao final garante que dados que ainda estejam no cache na memória RAM sejam gravados. Com isso, é seguro remover o cartão de memória.

Os comandos dd e sync não montam o cartão de memória após a gravação.

Se você abrir o aplicativo Arquivos, verá que o cartão de memória até aparece listado, mas não aparece o ícone de Desmontar ao lado dele:

Sendo assim, você pode simplesmente remover o cartão de memória do computador.

Iniciando o openSUSE

Insira o cartão de memória no Raspberry Pi e faça as devidas conexões, como vimos no outro post. Ligue o Raspberry Pi e o openSUSE será iniciado.

Na tela de login, use as credenciais root como nome de usuário e linux como senha.

Tumbleweed não inicia, e agora?

Se em vez da tela de login, o Tumbleweed no seu Raspberry Pi 4 mostra isso:

O sistema repete várias vezes a mensagem: Waiting for PHY auto negotiation to complete...

O sistema repete várias vezes a mensagem: Waiting for PHY auto negotiation to complete…

Esse é um bug conhecido do Tumbleweed e você pode encontrar mais informações a respeito dele, assim como uma forma de resolvê-lo, no texto:

Esse bug não afeta o Leap.

Continua…

Como percebi que o post já estava grande, decidi dividi-lo em duas partes. Deixei as configurações básicas para o próximo post.

Referências

Alguns dos textos que consultei para escrever o presente texto incluem:

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Sobre

O Projeto Linux Kamarada visa divulgar e promover o Linux como um sistema operacional robusto, seguro, versátil e fácil de usar, adequado para o uso diário seja em casa, no trabalho ou no servidor. Os focos do projeto são principalmente distribuição e documentação.

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